Sejamos mais Black Block’s
Acho
interessante como o Black-block se tornou um elemento de discussão e
contraponto entre ideologias.
Conheço
ambientalistas em Visconde de Mauá que lutam pra mudar o como o status quo está
destruindo a natureza em nome do impossível desenvolvimento sustentável. Esses
ambientalistas estão pra Mauá como os manifestantes estão em cidades grandes,
ou seja, nos manifestamos contra os governos que desgovernam a sociedade.
Já ouvi
da boca de um ambientalista amigo, apesar de considerar grande parte de seu
pensamento reacionário (ou seja defendendo o status quo da cultura, do
academicismo, etc) grandes críticas aos black-blocks. E respondendo ao Drummond
eu diria que não tenho medo do Joaquim, por isso exponho meus pensamentos.
Mas
esse texto é somente uma confirmação, uma confirmação de que sempre vi um lado
bom da atitude black-block, e ao viver algo na minha individualidade (ou seja,
nada a ver com luta social ou ambiental), quero compartilhar e desejar que
sejamos mais black-block em nossas vidas.
A
crítica principal é da inutilidade da destruição, da destruição de bens
públicos e bens privados. Nesse aspecto até que apoio a versão de que é
diferente qual propriedade se destrói. Pois ao destruir algo da cidade, são os
impostos coletivos (o que sobra deles depois de filtrados pela máquina da
corrupção), assim destruir algo que você próprio vai pagar depois parece
inútil, mas no mínimo é meu direito fazer isso, pois se é público, é meu
também, inclusive pra destruir (o que é um acelerar do uso, pois a longo prazo
tudo tem seu prazo de validade, e se não for destruído, um dia irá ser
substituído).
Quando
se entra na questão de destruir uma agência bancária, ou ícones do capitalismo,
a grande maioria dos manifestantes apoia pois parece ser um certo ‘desconto’
das corrupções e desvios roubados do capital de uma sociedade, ou por leis
injustas ou por outros mecanismos variados. Concordo em parte, pois pros
grandes capitalistas essas destruições não fazem nem cócegas, sem falar de que
alguns já devem ter descoberto contra-mecanismos pra que ainda lucrem mais
ainda com esses quebra-quebra.
Assim,
qual o lado bom dos black-blocks afinal? O lado bom é que não está se fazendo o
que os poderosos querem, que é manter o domínio e a submissão sob controle. Os
capitalistas se usam de filosofias religiosas pra controlar os explorados, e
usam a técnica de divulgar a versão bíblica de um Jesus Cristo que oferece a
outra face, ao receber um tapa (nessa ficção da bíblia até Cristo vira
black-block aos expulsar os comerciantes dos Templos). Ou seja, vivemos numa
sociedade em que mudanças sociais se tornaram impossíveis, pois o plano
político foi feito pra aparentar um mecanismo democrático (decisão da maioria),
mas seu funcionamento é feito por uma minoria que decide (ou seja, democracia-representativa
não pode ser democrática, pela sua essência). E diferente dos que defendem os
votos, e justamente pelo voto ser secreto, quem foi eleito não pode representar
seus eleitores, pois nem sabe quem eles são, ou seja, fica uma minoria que se
representa, e representa os interesses econômicos de quem paga mais –
ruralistas, evangélicos, etc...
Assim,
se quebrar uma lanchonete americana não muda efetivamente nada no aspecto
econômico e político, representa algo no plano emocional dos envolvidos. Pois
os poderosos continuam na hegemonia da grana e poder, mas agora sabem que tem
divergências que podem destruir seu império, e isso alimenta seu medo. Assim
num plano, o black-block desestrutura a segurança/garantia da continuidade,
pois é uma reação, e uma reação física, concreta, palpável.
Na hora
da dita ‘violência’ nos tornamos puros, menos racionais e mais emocionais; ou
seja em outras palavras, nos tornamos SINCEROS com nós mesmos, nossos incômodos
vêm pra fora e mudam a situação (mesmo que momentaneamente, pois no dia
seguinte a lanchonete ou banco já foi consertado). Se não vivo essa ‘violência’
tenho de resolver meu incômodo de outro jeito, me acomodando e vivendo o
incômodo, sempre racionalizado e justificado. Mudando um sentimento que deveria
ser pra mudar as coisas de fora pra buscar uma comodidade, o racional tem a
capacidade de auto engano ao transformar o sentimento de incômodo em um cômodo
resmunguento, ou seja, eu prefiro assumir que vivo uma posição incômoda, ao não
mudar as coisas de fora que geraram o sentimento, mas essa é a auto-ilusão,
pois como me conformo em viver o incômodo, me acomodei a esse incômodo só que a
energia que ele produz pra gerar a mudança, é voltada pra se retroalimentar,
num cômodo ilusório, ou seja, é impossível mudar ou não quero mudar, se tornam
a mesma coisa: palavras.
Assim,
o black-block ao chutar o balde dessas racionalizações que nos fazem aceitar
injustiças, corrupções, sacanagens, traições; nos põem no eixo da sinceridade
entra nosso pensar e nosso sentir. Se estou incomodado mudo, se me acomodei não
mudo; isso é a sinceridade corporal indo pras palavras.
Na hora
da ‘violência’ a energia muscular se equilibra, rompendo com as tensões ou
couraças (tensões crônicas) e a energia vibra e circula, nos deixando como após
um orgasmo, ou como é o estado natural das crianças: na sinceridade.
Recentemente
botei minha sinceridade black-block pra fora, após me centrar e racionalizar
todas as opções, preferi botar pra fora quebrando vidro, um pequeno desconto de
sacanagens que sofri por meses e percebi somente a uma semana. Meu joelho
inchado melhorou, tirei o peso de descontar em outros o que o dono dos bens
recebeu em seu bolso. Sei que como todo black-block a luta é injusta e
desigual, ou seja, não abalo nem de perto a sacanagem que recebi, mas a limpeza
energética do momento tem sua validade e investimento.
E
quanto mais acumulada a sacanagem, mais a justificativa do quebra-quebra. No
Brasil e suas manifestações, algo só vai mudar na política verdadeiramente
quando TODOS os manifestantes virarem sinceros em suas atitudes, precisamos
acabar com as cidades como elas estão, não adianta quebrar algumas agências
bancárias, deveríamos destruir todas as agências. Eu fui sacaneado por 6 meses
e quebrei uns vidros, mas se fosse por um ano, talvez eu queimasse uma casa.
Acho que falta mais radicalidade no viver das pessoas, eu vivo uma experiência
pessoal de não ser como essas outras pessoas que se acomodam em seus incômodos.
Assim,
SEJAMOS MAIS BLACK-BLOCK no nosso cotidiano, quero a sinceridade custe o que
custar. E a resposta sincera pras corrupções sociais e políticas é a indignação
e atitude. O sistema que dizer que a resposta está no voto, pra que mantenhamos
essa palhaçada toda.
Uma
última coisa, usei a palavra violência entre aspas acima, pois não existe
violência ao se destruir um poste, vidro, carro, prédio ou monumento. Violência
só existe ao se atacar PESSOAS, se atacar a vida. Atacar e destruir objetos é o
viver humano, hora construindo ou hora destruindo. Violência contra pessoas não
se justifica, a não ser em defesa própria, e olhe como só isso pode gerar
interpretações errôneas. Agora contra o filho-da-puta que tem um banco,
destruir sua agência é só um recado pra ele: pare de roubar, de ser sacana, o
que você constrói no roubo ou traição não vale a pena, pode ser destruído
justamente.
Isso
vale pras relações pessoais e afetivas, uma hora continuo e aprofundo esse
assunto.
Rui Takeguma, 16 de agosto de 2014
Este texto nasce de fazer uma leitura da importância das
manifestações como expressão de incômodo social que vivemos em junho de 2013.
As manifestações estão para a política tradicional partidária como um movimento
black block. E dentro das manifestações, os black block foram caçados e malditos,
seja pela mídia tradicional como pela polícia e Estado.
Minha produção é black block, seja editorialmente como atuo
em Visconde de Mauá, seja como terapeuta corporal há mais de 20 anos, e agora
esse ano com uma técnica individual. A somaterapia sempre foi a mais black
block das terapias e agora a minha prática entre a SOMAIÊ e SOMA-i nasceram
justamente pra ajudar as pessoas a botarem pra fora sua sinceridade no
cotidiano, ou seja em amores livres e produções criativas, sempre a acima de
tudo com a ética da cumplicidade com as pessoas em volta.
O viver cotidiano de forma sincera é ser black block na vida.
Isso requer estratégia, jogo de cintura e mandinga, pra isso adapto as técnicas
terapêuticas ao meu viver, e assim como a tática pode ser de recuo num momento
quente de conflito, isso se sucede nas manifestações de rua e nos âmbitos
variados do viver: o amar, o conviver, o educar e o produzir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário